Era uma vez um mercador do abstrato.
Vivia do escambo do que não se enxerga. Orgulhava-se de sua empreitada, mascatear ao ultrajado respostas precisas do que se esconde. Subterfúgios da superfície do improvável.
Ambiciosamente habilidoso expunha suas novidades antigas, surpresas envelhecidas... E com seu sorriso perfumado embebedava a lógica inocente daquele que espera.
Seu preço era caro, pois no suor de cada olho aflito sua salgada moeda era forjada.
Suas promessas? Elegantes enganos trajados pelo puro fio da luxúria.
Era uma vez um comprador.
Vivia da esperança do porvir, que muito tempo antes profetizara sua libertação da servidão voluntária de querer o não querer.
Ansiava pelo ambulante de além-eu trazer em seus apetrechos vidros enigmáticos com seus vazios conteúdos preenchidos por sonhos inacabados.
Já eram dias na vigilante agonia de veias arenosas espiando o será.
Do alto se observa. O encontro profetizado, o movimento de um, a postura d'outro. Falsidades desferidas, cumprimentos afrouxados, comércio realizado.
Sai o que mentiu, fica o iludido...
Por fim, de nada valeu chorar.