terça-feira, 31 de março de 2009

Destinos comprados


Era uma vez um mercador do abstrato.


Vivia do escambo do que não se enxerga. Orgulhava-se de sua empreitada, mascatear ao ultrajado respostas precisas do que se esconde. Subterfúgios da superfície do improvável.


Ambiciosamente habilidoso expunha suas novidades antigas, surpresas envelhecidas... E com seu sorriso perfumado embebedava a lógica inocente daquele que espera.


Seu preço era caro, pois no suor de cada olho aflito sua salgada moeda era forjada.


Suas promessas? Elegantes enganos trajados pelo puro fio da luxúria.


Era uma vez um comprador.


Vivia da esperança do porvir, que muito tempo antes profetizara sua libertação da servidão voluntária de querer o não querer.


Ansiava pelo ambulante de além-eu trazer em seus apetrechos vidros enigmáticos com seus vazios conteúdos preenchidos por sonhos inacabados.


Já eram dias na vigilante agonia de veias arenosas espiando o será.



Do alto se observa. O encontro profetizado, o movimento de um, a postura d'outro. Falsidades desferidas, cumprimentos afrouxados, comércio realizado.


Sai o que mentiu, fica o iludido...


Por fim, de nada valeu chorar.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Porque você está vivendo num laboratório de emoções

Jaleco ajustado, luvas calçadas, óculos lacrados.

Tentativa número: sem contagem.

Pipeta trêmula em mãos protegidas da contaminação do viver.

Suor gelado atravessando campos conhecidos pelo fedor do medo; abafados pela proteção do não errar.

Pensamentos divagantes dançando à frente dos olhos dilatados pela preocupação; abortos de memórias esquecidas.

Controles aprovados, checagem conferida, probabilidades infalíveis; nervos puídos?

Paradoxos aditivando combustíveis escassos em motores rotos; movimentos enferrujados pela falta de sentir.

Gotas espremendo-se esperando o sinal de escapagem; esperanças contidas na negação.

Silenciam-se os zumbidos, desloca-se a vontade, despertam os músculos, executa-se a tentativa; polegar a favor do experimentar.

Espere. Como?

O piscar de seu posto emite o sinal de derrota. Aleatórias variações transeuntes desviaram objetos em seu caminho; quantificações incontáveis no vazio reduto do porquê.

Face rígida, mãos epiléticas, peito chiando às investidas de maria fumaças que assopram passado; sons encorpados na densidade do adeus.

Desajusta-se, descalça-se, deslacra-se.

Fim de
expediente.